Como elaborar a hipótese do projeto de pesquisa?
Agora que você já tem a sua pergunta, será preciso elaborar a hipótese e os objetivos de seu projeto. Esses passos vão definir o escopo, ou limites, dele. Vamos começar pela hipótese do seu projeto de pesquisa.
O que é uma hipótese?
A palavra “hipótese” é derivada da junção de dois termos gregos: hipo, que significa “sob a condição de”, e thésis, que significa “teoria”. Portanto, dentro do contexto científico, hipótese pode ser entendida como “algo que ocorre sob determinada condição”, ou “uma teoria que se quer provar”. Em outras palavras, ela é uma tentativa de explicar um fenômeno observado ou de prever o resultado de uma experiência. É uma suposição que deve ser testada e confirmada, ou refutada, por meio de observação, experimentação ou análise de dados.
Qual a importância da hipótese num projeto de pesquisa?
As hipóteses são fundamentais no método científico, pois orientam a elaboração do projeto de pesquisa, fornecendo uma direção clara a seguir, o que auxilia o pesquisador a definir o escopo do estudo e concentrar seus esforços na investigação de uma questão específica. Ela ajuda a estruturar o projeto, orientando a seleção de variáveis a serem investigadas, os métodos de coleta de dados, a análise estatística e a interpretação dos resultados. Por fim, fornece uma base racional e a justificativa para o projeto, orientando a redação da introdução, do marco teórico e da justificativa.
Elaboração da hipótese
A hipótese é a resposta à pergunta de pesquisa. Ela representa o que o pesquisador espera encontrar ou provar por meio de seu projeto de pesquisa. Minimamente, a hipótese deve conter a variável dependente (ou desfecho) e a variável independente principal (ou exposição). O desfecho (resultado a ser avaliado) é chamado de variável dependente, pois se espera que ele dependa dos efeitos da variável independente principal, ou de outras variáveis. As variáveis independentes, a princípio, não dependente de outras variáveis. Idealmente, a hipótese de pesquisa deve ter os seguintes elementos:
- declaração do problema – descrição clara do fenômeno que está sendo estudado ou do problema que está sendo abordado;
- variável dependente e independente;
- relação entre as variáveis – declaração explícita sobre como a variável independente afeta ou influencia a variável dependente;
- base teórica ou justificativa – explicação ou fundamentação teórica que apoia a relação proposta entre as variáveis.
Opções de hipóteses
Veja os dois exemplos a seguir, baseados na seguinte pergunta de pesquisa: “Qual é o impacto da exposição a altos níveis de poluição do ar na incidência de doenças respiratórias entre moradores de grandes cidades?”.
Hipótese simples: “O aumento dos níveis de poluição do ar (variável independente) eleva (relação entre variáveis) a incidência de doenças respiratórias (variável dependente) em moradores de grandes cidades (população-alvo).”
Hipótese completa: “Se a exposição a altos níveis de poluição do ar (variável independente) aumentar, então a incidência de doenças respiratórias (variável dependente) também aumentará (relação entre variáveis) entre os residentes de áreas urbanas (população-alvo), pois há uma relação direta entre a poluição do ar e a ocorrência de doenças respiratórias (base teórica).”
Qual a diferença entre hipótese de pesquisa e hipótese nula?
Como já vimos, a hipótese de pesquisa é uma suposição ou uma proposição sobre a relação entre variáveis em um projeto de pesquisa. É uma teoria a ser prova. A hipótese nula também é uma hipótese de pesquisa. Ela deve ser utilizada quando for necessário realizar algum teste de inferência estatística entre a exposição (variável independente) e desfecho (variável dependente). A hipótese nula assume que não há efeito ou relação real entre as variáveis. Se este for o seu caso, além da hipótese nula, você deve elaborar a hipótese alternativa, que estabelece qual o efeito ou relação que você espera comprovar.
Dicas para elaboração da hipótese para um projeto de pesquisa
Lembre-se que uma boa pergunta de pesquisa e, consequentemente, uma boa hipótese, são baseadas no conhecimento prévio, logo a revisão da literatura é essencial. Antes de elaborar sua hipótese, identifique os seguintes componentes:
- variável dependente e independente (obrigatório);
- relação esperada entre essas variáveis, com base no conhecimento prévio (obrigatório);
- população-alvo (obrigatório);
- base teórica que sustenta sua hipótese (opcional).
A partir desses elementos básicos, siga as seguintes dicas:
- seja claro e específico – certifique-se de que sua hipótese reflita com precisão a pergunta de pesquisa. Evite generalizações vagas e mantenha a declaração focada nos elementos-chave da pergunta de pesquisa;
- formule a relação entre variáveis – identifique de forma clara a variável dependente e independente e estabeleça a relação esperada entre elas;
- certifique-se de que sua hipótese seja testável e mensurável – deve ser possível coletar dados empíricos que possam confirmar ou refutar sua hipótese por meio de observação, experimentação ou análise estatística;
- baseie-se em evidências prévias – sua hipótese deve ser suportada pela literatura científica;
- use linguagem clara e direta – evite jargões desnecessários ou linguagem técnica complexa. Mantenha a declaração simples e fácil de entender para que qualquer pessoa possa compreendê-la facilmente.
Exemplos na área de educação
Agora vamos ver alguns exemplos baseados nas perguntas do post “Por onde começo meu projeto de pesquisa?”
Pergunta: “Qual é o impacto do uso de tecnologia interativa no desempenho acadêmico dos alunos de medicina?”
Hipótese: “Alunos de medicina que utilizam tecnologia interativa como ferramenta de aprendizagem apresentarão desempenho acadêmico significativamente superior em comparação com aqueles que não utilizam, obtendo maiores notas em avaliações, maior retenção de conhecimento e mais habilidades clínicas.”
Pergunta: “A implementação de programas de tutoria entre pares altera o desempenho acadêmico de alunos de graduação em cursos de ciências sociais?”
Hipótese: “Alunos de graduação em cursos de ciências sociais que participam de programas de tutoria entre pares demonstrarão aumento significativo no desempenho acadêmico em comparação com aqueles que não participam, refletido em melhoria nas notas, taxas de retenção e satisfação com o curso.”
Pergunta: “Quais são os benefícios e desafios percebidos pelos professores ao integrar a aprendizagem baseada em projetos no currículo do ensino médio?”
Hipótese: “Professores que integram a aprendizagem baseada em projetos no currículo do ensino médio perceberão benefícios, como maior engajamento dos alunos, desenvolvimento de habilidades de resolução de problemas e aplicação do conhecimento. No entanto, também enfrentarão desafios, como demanda de tempo para planejamento, avaliação e coordenação de projetos.”
Exemplos na área de saúde
Pergunta: “O que interfere na adesão ao tratamento em pacientes com doenças crônicas, como diabetes tipo 2, acompanhados em unidades básicas de saúde?”
Hipótese: “A adesão ao tratamento em pacientes com doenças crônicas, como diabetes tipo 2, está positivamente associada a fatores como suporte social adequado, compreensão das instruções médicas, acesso a recursos de saúde e motivação intrínseca para manter o autocuidado, resultando em maior adesão ao tratamento e melhoria da qualidade de vida.”
Pergunta: “Qual é a eficácia da terapia cognitivo-comportamental no tratamento da depressão em pacientes adultos em comparação com a farmacoterapia?”
Hipótese: “A terapia cognitivo-comportamental será igualmente eficaz ou mais eficaz do que a farmacoterapia no tratamento da depressão em pacientes adultos, resultando em redução significativa nos sintomas depressivos, melhoria na qualidade de vida e menor incidência de efeitos colaterais adversos.”
Pergunta: “Como a implementação de protocolos de higienização das mãos influencia a incidência de infecções relacionadas à assistência à saúde em unidades de terapia intensiva?”
Hipótese: “A implementação de protocolos de higienização das mãos em unidades de terapia intensiva resultará em uma redução significativa na incidência de infecções relacionadas à assistência à saúde, demonstrada por uma diminuição na taxa de infecções hospitalares, tempo de internação e uso de antimicrobianos.”